A artista Ruth Patir e as curadoras do pavilhão de Israel na 60ª Bienal de Arte de Veneza anunciaram nesta terça-feira (16) que não abrirão a exposição, prevista para ser inaugurada no sábado (20), em protesto contra a guerra na Faixa de Gaza. Elas consideram como prioridade no momento a busca por um acordo de cessar-fogo e a libertação de reféns em Gaza. "A artista e as curadoras do pavilhão israelense abrirão a exposição quando um acordo de cessar-fogo e libertação dos reféns" for fechado, anunciou o site da exposição israelense na bienal de arte. A artista e as curadoras “optam por uma posição de solidariedade às famílias dos reféns e à grande comunidade israelense que pede mudança”, explicaram.
Ruth Patir, Tamar Margalit e Mira Lapidot alegaram que o momento não é apropriado para a arte e por isso decidiram boicotar a Bienal de Veneza. “Eu me oponho firmemente ao boicote cultural, mas, como acho que não existe uma resposta boa e que não posso fazer o que quero com o espaço que tenho, prefiro unir minha voz à daqueles que lançam esse grito” por um cessar-fogo imediato e pela libertação dos reféns, acrescentou Ruth. “Nós nos convertemos em notícia, e não em arte”, publicou no Instagram. O curador-geral da Bienal de Veneza, Adriano Pedrosa, disse que respeita a decisão da artista e que considera corajosa. “Não a conheço pessoalmente, mas acho que é muito corajosa e sábia”, afirmou. A edição de 2024 da Bienal de Veneza tem como tema “Estrangeiros em Todos os Lugares” e fica em cartaz de 20 de abril a 24 de novembro, com a participação de 88 países.
O trabalho de Ruth Patir escolhido para ser apresentado na Bienal de Veneza é a videoinstalação "(M)otherland". A artista foi selecionada para representar Israel por um painel de profissionais de artes designado pelo Ministério da Cultura israelense e a exposição foi parcialmente financiada pelo governo do país. Até o momento, o governo israelense não se pronunciou sobre a decisão de Patir de não participar do evento. Os organizadores haviam confirmado em fevereiro a participação de Israel, apesar de um pedido de boicote assinado por cerca de 9.000 pessoas, entre elas, artistas, arquitetos e curadores, para a exclusão de Israel do evento, acusando o país de genocídio na região de Gaza.
60ª Bienal de Veneza
A 60ª Bienal de Veneza, maior mostra de arte do mundo, tem como destaque a presença de artistas estrangeiros e indígenas de todo o planeta. Com 331 nomes, o dobro do habitual, a exposição traz uma diversidade de obras e artistas que representam migrações, identidades queer e artistas autodidatas. O curador Adriano Pedrosa busca trazer figuras nunca vistas da periferia do planeta para o centro do mundo da arte. A mostra conta com obras de artistas renomados que marcaram as correntes modernistas do início do século passado, como Diego Rivera, Frida Kahlo, Candido Portinari, entre outros. Mesmo com críticas de olhar mais para o passado do que para o presente, a Bienal de Veneza promete surpreender o público com uma constelação de artistas e obras inovadoras.
A exposição é marcada por uma abordagem histórica e contemporânea, com salas destinadas a artistas históricos e momentos de respiro em meio a densidade das obras. A presença de artistas italianos ou de raízes italianas que fizeram a vida fora da Itália também é destacada, mostrando um encontro de estrangeiros por toda parte. Além das grandes instalações e obras impactantes, a Bienal de Veneza também apresenta momentos mais sutis e intimistas, como o encontro de pinturas eróticas com naturezas-mortas marcadas pela delicadeza. A presença de artistas queer e a diversidade de expressões artísticas marcam a exposição, que busca promover diálogos poderosos com o passado e o presente da arte mundial.
Publicado por Carolina Ferreira
*Reportagem produzida com auxílio de IA